segunda-feira, setembro 21, 2015

Now we burn

 
Now we burn, por Sofia Gonçalves

Meses depois, estou de volta aquele que sempre foi o meu refúgio.
Os dias têm sido duros, os meus olhos volta e meia inundam-se de lágrimas e o sabor dos meus lábios é de despedida, com um trago forte a dor.
É difícil virar as coisas e continuar a andar quando o que mais queremos é virar-nos e correr para trás. Mas a vida não corre nessa direcção e quando já nada nos prende, temos de seguir o curso natural das coisas. Acho que esta foi a despedida mais difícil que tive até hoje, acho que nunca cedi e tentei tantas vezes como aqui. Talvez por já ter virado uma rotina, agora seja mais difícil quebrá-la.

Responder que "não" à pergunta "voltavas?" acho que foi o que mais doeu, não pela palavra "não", não pelo sentido da minha resposta, mas por tê-lo feito com tanta convicção, quando de todas as outras vezes existia sempre um "talvez" repleto de esperança.
Amar não é tudo. Amar não chega. Existem tantas outras raízes que provêm dessa palavra e todas elas são igualmente importantes, talvez por nunca se lhes ter dado o devido valor, tudo isto tenha agora que tenha ser quebrado.
Voltei a fechar-me dentro das minhas quatro paredes, aos poucos tenho quebrado as ligações que construí por aí, não por vontade própria, mas sim por uma necessidade que me ultrapassa.
E eu que pensei que nunca mais ia voltar ao buraco de onde saí...

Faço promessas que não tenho intenções de cumprir, pondero convites que não os irei concretizar, mas tudo isso tem apenas uma razão de ser: fazer parecer que está tudo bem, quando não está.
A ilusão.
Mas por detrás de tudo isto, estou eu ali. No fundo, sozinha, no meu pequeno refúgio que me serve tão bem. A minha concha. E sei tão bem que vai demorar muito para de lá sair, se algum dia for capaz de sair de novo. Vou voltar a ser dura, não com os outros, comigo. Vou descarregar em mim toda a minha raiva, vou endoidecer dentro de mim mesma e vou-me quebrar sozinha.
É a minha maneira de sofrer. Invisível.