domingo, fevereiro 21, 2016

Routine


Routine, por Sofia Gonçalves
Esta é a segunda vez que escrevo sobre ti. Preferia escrever por outras razões, mas as circunstâncias não o permitem.
Hoje é o terceiro dia que não falamos e daqui a três dias faríamos dois meses, e que dois agradáveis quase dois meses foram estes. Falo de tudo. Desde a primeira troca de palavras ao primeiro encontro, ao primeiro toque, ao primeiro beijo, ao primeiro tudo. E ao segundo, ao terceiro...todos estes momentos tiveram o seu valor e todos eles foram únicos, porque todos eles foram uma primeira vez.
E hoje é também uma primeira vez. A primeira vez que o teu nome tem um lugar aqui, no meu refúgio, no meu abrigo, mas desta vez com um sabor amargo.
Hoje a saudade invadiu-me por todo. Ocupa-me a cabeça, ocupa-me o corpo, ocupa-me a alma.
Ocupa-me de uma forma tão profunda que quase me poderia quebrar se ela assim o quisesse, e se assim fosse, aceitaria de bom grado. Hoje sinto essencialmente falta de ti, não que nos outros dias tenha sido diferente desde que as coisas mudaram, mas hoje...é tudo mais intenso.
Hoje queria o teu olhar, aquele teu olhar meigo que caía em mim, aquele olhar pelo qual me apaixonei instantaneamente, hoje queria que lesses para mim e como aconchego queria o teu colo algures num sofá qualquer. Queria ficar ali, calada, a admirar-te, a ouvir-te. No novo refúgio que tinha recebido pelo Natal.
Queria seguir a nossa rotina, um pouco a medo, porque medo temos sempre, se não tivermos medo, então não vale a pena. As relações a sério têm de nos fazer sentir de tudo, quando se sente de tudo, então estamos a vive-la em pleno, caso contrário é só um passatempo. E eu sentia de tudo.
Hoje queria encontrar-me contigo, queria caminhar ao teu lado, mesmo que não fosse para passear ou para sermos só nós. Queria ir por aí e queria acabar em casa, na tua, na minha, num lugar qualquer, um qualquer lugar a que pudéssemos chamar casa. Queria atirar os meus sapatos para o meio do chão, despir as roupas apertadas e ficar junto a ti. Só isso. E isto...não imaginas o quanto feliz me faria, fazia.
Então, hoje cheguei a casa, vinda de uma rotina que não era a nossa, atirei os sapatos para o chão e despi a minha roupa pomposa, atirei-me para o sofá mas não encontrei o teu colo.
Sinto-me vazia de ti.
Diz-me, então, como posso eu recomeçar contigo. Como posso eu fazer-te saber que tenho medos como qualquer outro ser humano, que tenho crises como qualquer louco com liberdade de imaginar e que vou errar muito, mas que vou tentar sempre recompensar-te cada erro meu.
Tira o nosso livro da estante, tira-lhe o ponto final que lhe destinei em paranóia e põe-lhe uma virgula, se te sentes minimamente capaz de voltar a tentar comigo, seja por saudade, por carinho ou por qualquer outra razão. Tudo é válido. Porque é só isso que te peço, que tentemos.
Deixa-me ser a tua companhia, em qualquer hora, em qualquer dia. Deixa-me ser alguém.
Porque sabes...sabes quando eu tinha dúvidas e tu, mesmo assim, me deixas-te arriscar? Agora eu tenho certezas.