segunda-feira, junho 30, 2014

Room 7D


Sento-me diante do rascunho, na posição mais confortável que encontrei, mas as palavras hesitam em sair. Tento desesperadamente ser eu mesma, tento desta forma fazer com que as palavras acabem por fluir e espero ansiosamente que quando encontrar a última linha da página, para trás, esteja um caminho completo, completamente escrito sobre mim.
Eventualmente acabarei por ser capaz, capaz de me expressar, mas até ao preciso minuto em que essa arte suceda ainda vão longos monólogos para trás.
A dada altura vou-me perder, vou-me perder porque me encontrei e tudo flui tão fluentemente que não vou ser capaz de encontrar barreiras e quando der por mim, já disse tudo mesmo que pareça não ter dito nada. Porque sabes...
Sabes que dia é hoje? 30. Mas para todos os efeitos encara-o como um 31. E a ser 31, faz precisamente hoje um mês que partilhamos o mesmo espaço durante tantas horas.
Aquele 7D. Aquele cantinho nosso. Aquele lugar que por tantas horas foi o nosso casulo.
Foi lá que mesmo a medo, me deixei levar a ti. Foi lá que nos sentimos pela primeira vez como se estivéssemos juntas. Como se as nossas vidas fossem ali, como se nós pertencêssemos ali. Aproveitamos cada segundo, como em seguida nos deixamos levar em demasia e no meio de tanta correria acabamos por tropeçar e magoar bem forte.
Tivemos de deixar, tivemos de nos deixar. Tivemos de nos perder, para nos podermos reencontrar.
E perdemo-nos. Tão brutalmente que a certa altura tive medo de não ser capaz de te reencontrar de novo. Porque antes de te procurar, precisei de me procurar a mim.
Precisei de me reencontrar, de me sentir, precisei de me compreender, de entender e fi-lo.
Cada peça de mim que outrora foi um puzzle confuso e embaralhado, eu encontrei, eu organizei. E quando senti o teu encontrão em mim, quando te vi passar por mim e partir sem mim, eu percebi que tinha de te alcançar a mão. Eu tinha de chegar até ti, tinha de fazer-te ver-me, tinha de te prender em mim. Porque tu ias embora.
Quem sabe voltarias, quem sabe te perdias para sempre.
Fui capaz. Mesmo com as lágrimas que me enturvavam a visão, eu consegui enxergar-te e no momento em que te encontrei, não te podia perder de novo.
Aprendemos.
Agora aprendemos.
Agora vivemos calmamente, sem as loucas correrias que um dia foram quase que a nossa rotina. Rotina essa que nos quebrou.
Agora sabemos viver, apreciar, sentir.
Agora vamos sendo nós, com um passado de mágoa mas que entre-linhas trouxe muita felicidade aos nossos rostos. Foi essa mágoa que nos tornou no que somos hoje e no que seremos amanhã, melhores ainda, presumo. Anseio.
Esta mágoa que quase nos separou, foi a mesma que nos juntou.
Como podemos nós abandonar uma corrente tão forte como esta mágoa?
Não podemos. Faz parte. Parte de nós.



Pertenço-te.
Sabes tão bem. Mesmo sem saber.

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